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3.7.11

Até Orwell merece uns cortes*

Não no orçamento. Na escrita. Uma boa edição de texto faz milagres. Como um bom corte de cabelo mas vezes mil.

A verdade é que é difícil dizermos o que pretendemos à primeira. Repetimo-nos, enganamo-nos, trocamos a ordem das ideias, esquecemo-nos do leitor e com a má forma podemos aniquilar o conteúdo.
Porém, sentido crítico, familiaridade com a(s) língua(s), cultura geral e talento para a cirurgia podem ressuscitar um texto.
É difícil para o paciente, que nem sempre tem a paciência necessária. Mas para o operário das obras também não é fácil. Para o primeiro, o segredo é confiar. No caso do segundo, o truque é ser-se alternadamente protector, crítico, impiedoso e criativo.

Protector para com o leitor, para com as suas expectativas, respeitando o tempo e o dinheiro que ele despenderá com o texto, mas também para com o autor/tradutor, que cairia no ridículo se certas coisas chegassem a público, e ainda para com a editora, que acolhe a obra.
Crítico para com o autor/tradutor, que são humanos e, naturalmente, falham, e para com o próprio, medindo as medidas tomadas.
Impiedoso para com o texto, fazendo o bem sem olhar a quem, avançando com coragem e razão.
Criativo nas soluções propostas, procurando beneficiar todas as partes sem ferir susceptibilidades.

Há que respeitar as intenções do autor/tradutor, as ideias no texto, as necessidades do leitor. E no meio de tudo isto manter-se invisível.
É difícil para o autor/tradutor admitir insuficiências e perfilhar passagens que não são suas.
É difícil para o revisor/editor de texto, que tem de recorrer à negociação permanente (e que deixará de conseguir ler seja o que for em paz).
A editora faz de árbitro e se o fizer bem não ficará a perder.

Se tudo correr bem, no fim ganham todos, especialmente os leitores.

Se os editores de texto fazem falta hoje? Por Zeus, mais do que nunca!


* Writing naked (nakeder than Orwell)

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